sábado, 12 de fevereiro de 2011

A Morte de Deus e a Morte do homem no pensamento de Nietzsche e de Michel Foucault

A Morte de Deus e a Morte do homem no pensamento de Nietzsche e de Michel Foucault

Pensar a morte dos deuses parece constituir-se numa maneira bastante interessante de se compreender a transição das épocas históricas e das mudanças na forma de ver e de explicar o mundo. Este texto pode subsidiar o próprio estudo da história das idéias, tornando mais rica à filosofia.
Uma coisa é certa e deve aqui ser registrada: ambos, Nietzsche e Foucault, são mestres da incitação à crítica e do aguçamento em nós da santa vontade de ir além. A filosofia adquire um enorme sentido ao podermos utilizá-la para interpretar o nosso mundo, transcender mesmo o pensamento de nossos mais caros filósofos inspiradores.
O que nos vem a dizer de nosso mundo, especialmente de nosso mundo brasileiro? O que é possível dizer da inquietação que ora nos acomete? – Que a razão estertora miúda, ávida por novos deuses? Que, hoje, nenhuma grande palavra mais parece se sustentar? E que a racionalidade busca ávida e desesperadamente algo em que ainda possa se fundamentar? Que, hoje, o deus por ela criado se chama Dinheiro? Que não mais a cruz, mas o cifrão impera como símbolo de uma fé no mundo? Que, no Brasil, a Santíssima Trindade configura-se pelo Dólar, o Real e o Mercado?
Hoje, parece que vivemos de uma forma negativa o que Foucault intuíra: a morte do homem e o brilhar mais forte do ser da linguagem. Negativa porque a linguagem da Economia não parece ser a linguagem da superação nietzschiana, mas sim a linguagem do último homem, merceeiro mesquinho, adorador do deus Dinheiro.
Porque, o discurso da Economia, como está hoje posto, não parece estar voltado para a vida. Constitui-se numa metafísica, a metafísica dos sacerdotes “executivos” vestidos de terno escuro, ar circunspecto, pesado, falar comedido – o próprio espírito de gravidade – e que sonham com férias na Disneylândia… – Não será hoje a Disneylândia a mais ridícula evidência do ideal ascético do qual falava Nietzsche? Ou será viver em refrigerados gabinetes funcionais o ascetismo maior? Assessorados por submissos e entorpecidos empregados, cordeiros do rebanho, a entabular negociações e projetos de nenhum compromisso com a vida, e a exigir comportamento de máquina das pessoas, e a excluir-las.
Apartar-se da vida, negar as vidas, eis o que parecem querer essas “madres superioras”, movidas pela moral dos merceeiros. Resguardar-se com base numa racionalidade engendrada; apoderar-se de uma razão e de suas regras, tornar-se detentor da verdade e encarapitar-se numa posição metafísica; e fazer com aquilo que sua racionalidade engendrou o próprio fundamento dessa racionalidade. Não é isso que se dá com o “plano” de todo e qualquer déspota, mesmo esclarecido? Kant, ingenuamente talvez, ou com fé demais, propunha ao déspota de seu tempo (Frederico II) um tipo de contrato: “certo tipo de despotismo racional com a razão livre”. Mas a razão… a razão não é livre, direi. A razão é instrumento. E Kant parece sequer ter desconfiado de que o seu déspota poderia ter ódio: da vida!
Porque a vida é incerta, na vida tem protestos e reivindicações, tem vaias, corre-se o risco de ter que se exilar, de ficar desamparado, desacreditado, de ficar desempregado, vale dizer, sem sentido, de passar fome (o que acontece com boa parte dos profissionais da educação, não só em São Paulo, mas em várias regiões brasileira). Na vida tem mendigos, tem assaltos, tem sujeira, tem crianças largadas e assassinadas nas ruas, tem hospitais infecciosos, tem podridão, tem calor, tem fome, tem enchentes, tem coceira, tem baratas.
Se hoje vivemos negativamente a morte do homem pela via da linguagem da Economia, poderemos muito bem viver outra morte, esta sim positiva, verdadeira superação, é o que nos sugere Clarice Lispector. Cometer um gesto louco, de pura abertura estética: talvez aí resida a “salvação”; um caminho para quem ama a vida e se tornou poeta e desprezador das verdades racionais, tal qual Friedrich Nietzsche e - por que não-? Michel Foucault.
Para finalizar, desejo o retorno das esquerdas, inspirado no que está a configurar-se como o prenúncio da morte de mais uma divindade: a situação vexatória em que se encontra o mundo e as recentes tendências de opinião em várias partes deste mesmo mundo; que acabam também brasileiras. É o que seremos amanhã.
Desejo aqui a todos aqueles que em nosso país se indignam com a arrogância, a prepotência e os sofismas do poder, e que por isso se inquietam, se sentem gauche na vida; e que sonham com um Brasil menos ascético e mais leve. Sim, mais leve, meus senhores, mais leve. Cair no mundo como ele é, convertendo-se num desprezador para poder tornar-se um criador – um criador de valores – como o são os poetas, os artistas! O mundo, meus senhores, está a requerer criadores, porque os deuses antigos estão para morrer!
Texto idealizado com base n dissertação do Prof° José Guilherme Dantas Lucarinv
Cícero Rodrigues da silva Conselheiro Estadual da Apeoesp – subsede sul – Oposição Alternativa –TLS
www.tlszsul.blogspot.com

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