domingo, 3 de abril de 2011

Filosofia e Questões Teóricas Karl Marx Dom, 30 de Março de 2008 15:30 Karl MarxI. O principal defeito de todo materialismo até aqui (inclusive o de Feuerbach) é que o objeto, a realidade, a sensibilidade, só são apreendidos sob a forma de objeto ou de intuição, mas não como atividade humana sensível, como práxis, não subjetivamente. Por essa razão, o aspecto ativo foi desenvolvido, em oposição ao materialismo, pelo idealismo ─ mas só abstratamente, uma vez que o idealismo naturalmente não reconhece a atividade real, sensível, como tal. Feueurbach quer objetos sensíveis, realmente distintos dos objetos do pensamento; mas não vê a própria atividade humana como atividade objetiva. Por isso, em a Essência do Cristianismo, considera apenas a atividade teórica como autenticamente humana, enquanto a praxis só é apreendida e fixada sob a sua forma judaica e sórdida. Eis porque não compreende a importância da atividade “revolucionária”, da atividade “prático-crítica”. II. A questão de atribuir ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão teórica, mas prática. É na práxis que o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e a força, o caráter terreno de seu pensamento. A disputa acerca da realidade ou irrealidade do pensamento (visto isoladamente da práxis) é uma questão puramente escolástica. III. A doutrina materialista que supõe que os homens são produtos das circunstâncias e da educação e, em razão disso, os homens transformados são produtos de outras circunstâncias e de uma educação modificada, esquece-se de que são justamente os homens que transformam as circunstâncias e que o próprio educador precisa ser educado. Por isso, essa doutrina chega, necessariamente, a dividir a sociedade em duas partes, uma das quais é posta acima da sociedade (por exemplo, em Robert Owen). A coincidência da mudança das circunstâcias com a atividade humana ou mudança de si próprio só pode ser vista e considerada racionalmente como práxis revolucionária. IV. Feuerbach parte do fato da auto-alienação religiosa, a qual promove a duplicação do mundo em um mundo religioso, da representação, e em um real. Seu trabalho consiste em reduzir o mundo religioso a seu fundamento terreno. Ele não vê que, depois de realizado esse trabalho, o principal ainda resta por fazer. Mas o fato de que esse fundamento se eleve de si mesmo e se fixe nas nuvens como um reino autônomo só pode ser explicado pela auto-ruptura e pela autocontradição desse fundamento terreno. Este deve ser compreendido primeiramente em sua contradição e depois ser revolucionado praticamente, pela eliminação da contradição. Dessa forma, por exemplo, uma vez descoberto que a família terrestre é o segredo da sagrada família, é a primeira que deve ser criticada na teoria e revolucionada na prática. V. Feuerbach, não satisfeito com o pensamente abstrato, recorre à intuição sensível; mas não vê a sensibilidade como atividade prática humana e sensível. VI. Feuerbach transforma a essência religiosa em essência humana. Porém, a essência humana não é uma abstração inerente ao indivíduo isolado. Em sua realidade, é o conjunto das relações sociais. Feuerbach, não fazendo a crítica desse ser, é, assim, obrigado: 1. a abstrair o curso da história e a fixar o sentimento religioso como algo que existe por si mesmo, e a supor um indivíduo humano abstrato, isolado; 2. a tomar, portanto, o ser humano como “gênero”, como generalidade interna, muda, que liga apenas de modo natural a multidão de indivíduos. VII. Por essa razão, feuerbach não vê que o “sentimento religioso” é ele mesmo um produto social e que o indivíduo abstrato que ele analisa pertence, na realidade, a uma forma social determinada. VIII. Qualquer vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que levam ao misticismo encontram sua solução racional na práxis humana e na compreensão dessa práxis. IX. O máximo alcançado pelo materialismo intuitivo, isto é, o materialismo que não entende a sensibilidade como atividade prática, é a intuição dos indivíduos isolados na “sociedade civil”. X. O ponto de vista do antigo materialismo é a sociedade “civil”. O ponto de vista do novo materialismo é a sociedade humana ou a humanidade social. XI. Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; mas o que importa é transformá-lo. Karl Marx (1818-1883) escreveu estas teses por volta de 1845. Esta é versão publicada por Friedrich Engels (1820-1895) junto com a reedição de 1888 do seu Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã

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