domingo, 2 de outubro de 2011

É NATURAL QUE O AVANÇO DA FILOSOFIA E DA SOCIOLOGIA PROVOQUE AMPLO DEBATE.

As tolices dos reacionários da filosofia e da sociologia:


texto publicado do site da revista veja.
02/10/2011

Assim como essa gente não entende humor numa propaganda — e, por isso, vê na independente e milionária Gisele Bündchen uma agente do machismo! —, também não entende ironia num texto. Aquele em que afirmei que o Brasil precisa de menos sociólogos e filósofos e de mais entenheiros que se expressem com clareza continua a render protestos enfurecidos. E, como não poderia deixar de ser, quanto mais furiosos, mais burros. É evidente que não quero banir a sociologia e a filosofia do país ou da escola. O que já deixei claro é que essas disciplinas não podem integrar a grade curricular sacrificando-se aulas de português e matemática. O desempenho dos estudantes no ensino médio nessas áreas já é sofrível hoje; imaginem se as aulas forem cortadas… Mas não adianta! A turma que está convicta de que a obrigação da escola é “fazer pensar” ficou assanhada. Centenas de comentários me acusam, como é mesmo?, de ter “medo de que o povo comece a pensar”. Ai, ai…
Mal se dão conta de que, ao argumentar dessa forma, me dão razão. Uma das minhas restrições à introdução dessas disciplinas sem qualquer preparação prévia dos professores ou definição dos currículos está justamente no risco de o proselitismo reles — e inútil — ocupar o já tão escasso tempo dos estudantes pobres, já que os ricos das escolas particulares de elite continuariam a ter as aulas de sempre; a filosofia ou sociologia entram como suplementos, afi9nal, podem ficar mais tempo na escola.
E quem é que afirma que eu tenho “medo”? Pessoas formadas em sociologia e filosofia! Mas por que eu teria? Aulas honestas de ambas as discplinas deveriam discutir tanto concepções que deploro (o marxismo, por exemplo) como outras que respeito, como o weberianismo. Esses caras se traem: ao afirmar que temo “a consciência” dos alunos, revelam, então, que eles se vêem diante da oportunidade de fazer proselitismo ideológico em sala de aula.
Ora, eu sempre soube disso — o que não quer dizer que inexistam professores que trabalhem com seriedade. Esclareço uma coisa importantíssima: esses prosélitos disfarçados de professores são bastante ineficientes em seu trabalho. Os alunos costumam é ter horror da pregação vigarista. Eu não temo a eventual formação de exércitos de esquerdistas ou sei lá o quê… Isso é uma bobagem. O que eu defendo, isto sim!, é que os pobres não sejam mais discriminados do que já são hoje em dia: aos ricos, cargas elevadas de português e matemática no ensino médio privado para que disputem as vagas nos cursos de elite das universidades públicas; aos pobres, saliva pseudofilosófica e pseudo-sociológica na escola pública para pegar uma vaguinha do ProUni em algum curso vagabundo privado, ministrado só com saliva…
Afinal, vocês já se deram conta do “grande X” que acontece na passagem do ensino médio para o universitário, não? Os ricos saem da escola privada e vão para a pública; os pobres saem da pública e vão para a privada. Resultado: as famílias ricas têm um aumento de renda tão logo seus filhos entram no ensino universitário.
Recebi também alguns vitupérios contra o ensino de gramática, ainda resquício, suponho, daquela senhora e seu livro bucéfalo que abonam o “Nós pega os peixe”. Olhem aqui: para contestar a gramática, é preciso, ao menos saber gramática. Não é o que pude perceber nos comentários que chegaram. Essa gente deveria parar de folclorizar a própria ignorância, chamando-a de “progressismo”. Uma ova! Estão, elas sim, é fazendo a aposta no obscurantismo.
Reacionário é achar que pobre, porque pobre, precisa da iluminação crítica — enquanto aos ricos se ensinam as disciplinas com que poderão manter os privilégios com que foram aquinhoados já no berço. O socialista cretino indagaria: “Por que você não propõe acabar com os privilégios?” Porque seria inútil e contraproducente. Precisamos é dar uma escola decente aos pobres para que eles tenham o direito de aprender e competir. Foi o que fizeram os países que venceram o atraso.
E que fique o registro: recebi também muitas manifestações de apoio de pessoas formadas em filosofia e sociologia; entenderam que minha crítica não é dirigida às duas disciplinas, mas aos vigaristas que pretendem instrumentalizá-las em favor de uma causa política.

Por Reinaldo Azevedo

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