terça-feira, 21 de junho de 2011

MODERNIDADE EM TURBILHÃO

“Ser moderno é experimentar a existência pessoal e social como um torvelinho, ver o mundo e a si próprio em perpétua desintegração e renovação, agitação e angústia, ambigüidade e contradição: é ser parte de um universo em que tudo que é sólido desmancha no ar”.

(Marshall Berman – Tudo que é sólido desmancha no ar)

Vivemos na era da incerteza, onde as mudanças são muitas e ocorrem em alta velocidade, colocando as sociedades diante de novos desafios, exigindo a reformulação de modos de viver e atuar no universo.
Os diversos ramos do conhecimento avançam sem parar, mas, por outro lado, crescem as contradições nas sociedades, acentuando cada vez mais as desigualdades.
Ao mesmo tempo em que a humanidade realiza inventos fantásticos, vemos as dificuldades aumentarem em várias frentes, como: desemprego em massa, que coloca frente a frente desenvolvimento e novas exigências na qualificação de mão-de-obra; desigualdades sociais que se acirram cada vez mais, criando um exército de esfomeados pelo mundo afora; os avanços científicos fazem importantes descobertas, como mapeamento do DNA, por exemplo, mas, lado a lado correm as dificuldades que jogam os seres humanos na maca do sofrimento, como a doença da Aids, que não poupa a imprudência do sexo feito sem proteção, bem como outras doenças que ainda dependem de novas descobertas para sua cura; no tocante aos adolescentes e jovens, vemos os pais preocupados com o seu futuro, seja no que se refere a uma educação de qualidade, suas escolhas profissionais, num mercado de trabalho globalizado, além do perigo que ronda as novas gerações, conseqüência do fogo cruzado da violência generalizada, causando incerteza sobre o próprio futuro e falta de perspectiva em dias melhores, principalmente para os setores sociais menos favorecidos.
Mas, no turbilhão da modernidade, não dá para ignorar as conquistas passadas que a humanidade granjeou, nem fazer do presente um discurso oco, que desemboca numa prática vazia de valores, gerando descompassos entre os rumos do desenvolvimento científico, econômico e social e o bem-estar das sociedades.
Na medida em que o desenvolvimento e o progresso beneficiar apenas setores privilegiados das sociedades, aumentará as desigualdades sociais, acumulará as carências da maioria que já é penalizada e as conseqüências são essas que presenciamos em nosso país e no mundo: miséria, fome, cenários de guerras entre os povos; uma humanidade sufocada entre a violência e a cede de paz; desenvolvimento às custas da degradação do meio ambiente, tudo em nome do lucro. Se as coisas continuarem assim, que futuro podemos vislumbrar para nós e para as futuras gerações? Alguém arrisca um palpite?
É caminhando no fio da navalha da modernidade, que cria e recria novidades constantemente, nos mais variados ramos do conhecimento; trafegando na busca de novas conquistas, que ajudam a humanidade a viver mais e melhor, mesmo esbarrando-nos nas contradições de nossa era, que precisamos construir o diálogo na dialética entre passado, presente e perspectivas para o futuro.
Se não dá mais para vivermos ancorados em certezas que pareciam eternas, também não é recomendável que aceitemos a lógica de uma modernidade que lança luz e, ao mesmo tempo, semeia trevas, através dos privilégios em favor de poucos e a recusa à participação da grande maioria, que apenas contempla os novos avanços e seus benefícios, sentado no banco das carências que parece nunca terem fim.
É por isso que para Marshall Berman “ser modernista é sentir-se de alguma forma em casa em meio ao redemoinho, fazer seu o ritmo dele, movimentar-se entre suas correntes em busca de novas formas de realidade, beleza, liberdade, justiça, permitidas pelo seu fluxo ardoroso e arriscado”. E conclui: “Creio que nós e aqueles que virão depois de nós continuarão lutando para fazer com que nos sintamos em casa neste mundo, mesmo que os lares que construímos, a rua moderna, o espírito moderno continuem a desmanchar no ar.”
Esse é o grande desafio que esse turbilhão da modernidade provoca. Cabe a cada um encará-lo ou ignorar o que está acontecendo nos próprios pés.

Ivo Lima
Escritor e professor de Filosofia
Autor do livro O Recheio que Faltava em Sua Vida – Para ser feliz
E-mail: ivolimasantos@yahoo.com.br

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